Editora: Intrínseca
Páginas: 416
Libby tinha sete anos quando a mãe e as duas irmãs foram assassinadas no «Sacrifício a Satanás de Kinnakee, no Kansas». Enquanto a família jazia agonizante, Libby fugiu da pequena casa da quinta onde viviam e mergulhou na neve gelada de janeiro. Perdeu alguns dedos das mãos e dos pés, mas sobreviveu e ficou célebre por testemunhar contra Ben, o irmão de quinze anos, que acusou de ser o assassino.
Passados vinte cinco anos, Ben encontra-se na prisão e Libby vive com o pouco dinheiro de um fundo criado por pessoas caridosas que há muito se esqueceram dela.O Kill Club é uma macabra sociedade secreta obcecada por crimes extraordinários. Quando localizam Libby e lhe tentam sacar os pormenores do crime (provas que esperam vir a libertar Ben), Libby engendra um plano para lucrar com a sua história trágica. Por uma determinada maquia, estabelecerá contacto com os intervenientes daquela noite e contará as suas descobertas ao clube... e talvez venha a admitir que afinal o seu testemunho não era assim tão sólido.
À medida que a busca de Libby a leva de clubes de striptease manhosos no Missouri a vilas turísticas de Oklahoma agora abandonadas, a narrativa vai voltando atrás, à noite de 2 de janeiro de 1985. Os acontecimentos desse dia são recontados através da família de Libby, incluindo Ben, um miúdo solitário cuja raiva contra o pai indolente e pela quinta a cair aos pedaços o leva a uma amizade inquietante com a rapariga acabada de chegar à vila. Peça a peça, a verdade inimaginável começa a vir ao de cima, e Libby dá por si no ponto onde começara: a fugir de um assassino.
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“Os Day eram um clã que poderia viver à beça.
Mas Bem Day perdeu a cabeça.
O poder de Satanás o garoto queria. E matou a família em meio a uma gritaria.
Da pequena Michelle torceu o pescocinho. Depois da Debby fez picadinho.
A mãe,Patty, guardou para o final.
E, sem piedade, em sua cabeça deu um tiro fatal.
A bebê Libby conseguiu viva permanecer. Mas passar por aquilo de modo algum e viver.”
-Cantiga de roda, Circa 1985.
Lugares Escurosé mais uma obra prima da autora Gillian Flynn, que dessa vez foi elogiada por ninguém menos do que Stephen King, sim, o mestre do horror deixou sua recomendaçãozinha , irei me ater as suas palavras:
“Gillian Flynn é perfeita. Afiada, ácida, uma contadora de histórias convincente com talento especial para o macabro.”
Quem não gosta de coisas macabras ?..rsrs.
O livro
foi um dos lançamentos do mês de maio de 2015 da Editora Intrínseca, e teve sua adaptação cinematografia exibida em Julho.
Gillian Flynné mais conhecida pelos livros
Garota Exemplar (que foi adaptado para as telinhas em 2014) e
Objetos Cortantes(lançado no Brasil no começo de 2015, mas foi o primeiro livro da escritora e continua sendo meu predileto).
O começo dele me fez lembrar da minissérie norte americana, The Lizzie Borden Chronicles, ao qual retrata uma historia real, que tornou-se parte do folclore americano. Quem curte coisas macabras talvez conheça o caso da Lizzie Andrew Borden, que matou o pai e a madrasta a machadadas brutais no dia 4 de Agosto de 1892, em Fall River, Massachussets. Essa historia e o livro,Lugares Escuros, apresentam pontos em comum, mas Gillian se possível conseguiu deixar as coisas bem mais macabras melhores, então vamos ao que interessa:
Tudo começou por volta das duas da manhã do dia 2 de janeiro de 1985, na casa da família Day, em fazenda falida em Kinnakee, Kansas. Quando todos os integrantes da família foram mortos de maneira bastante peculiar pelo irmão mais velho, Bem Day, que na época era um adolescente de 15 anos. O caso ficou conhecido como um Sacrifício a Satanás, as pessoas chegaram a afirmar que Bem era um adorador do Diabo. Em meados de 1980, o satanismo estava em alta. Se acontecia algo cruel demais, para culparmos a própria humanidade, optávamos por culpar o diabo. Fatos nunca explicados da noite do massacre foram jogados para debaixo do tapete e esquecido com o único intuito de acalmar a população interiorana. Mas nem tudo que brilha é ouro, nem tudo que parece realmente é. Bem foi preso, acusado de matar toda a família, menos a irmã mais nova que durante o derramamento de sangue conseguiu fugir pela janela do quarto da mãe.
Depois daquele dia, todos nunca esqueceriam o rosto e o nome, Libby Day . Os refletores a amavam, o seu rostinho infantil, seus cabelos ruivos e seus olhos grandes e tristes que vislumbraram a morte sempre deram Ibope. O assunto foi lembrado incalculáveis vezes durante os anos que se seguiram, manchetes do tipo : “Fazem dois...cinco ...sete anos desde o Massacre da Família Day” ou “ Como está a bebê Libby?”, sempre voltavam à tona . A garota de aparência frágil tornou-se uma mini celebridade, todos queriam ajudar a bebê Libby, a pequena órfã, a única sobrevivente daquele dia fatídico. Até que ela cresceu é o assunto foi esquecido.
“Nunca fui uma boa menina e piorei depois dos assassinatos.”
“Eu não era uma criança adorável e me tornei uma adulta extremamente detestável. Se alguém fizesse um retrato da minha alma,veria um amontoado de rabiscos com presas.”
Libby agora está com quase trinte e dois anos e sua única companhia consiste em um gato velho, chamado Buck. Ela mora em uma pequena casa alugada, repleta de coleções de bugigangas sem sentido, vários frascos pequenos de hidrantes e diversos cinzeiros . Libby se tornou uma cleptomaníaca, não consegue ao menos sair de uma lanchonete sem um saleiro no bolso, depois de tudo que lhe aconteceu isso é somente uma consequência decorrente de uma infância nada comum. Libby viveu até os 13 anos no trailer da irmã mais velha de sua mãe, depois disso ficou pulando de casa em casa, até completar 18 anos e poder se virar sozinha. A tragédia afinal rendeu bons lucros, ao se tornar maior de idade Libby pode usufruir de uma conta bancaria bem gorda. Quando em um belo dia Jim Jefferey, seu contador, resolve fazer sua visita anual para informar-lhe que a fonte de seu dinheiro acabou e ela finalmente teria que sair das abas da tragédia.
Alguns dias se passam e ela recebe uma ligação de um desconhecido, um garoto oferecendo uma bela quantia somente pela sua presença em um evento ao qual Libby teria que falar um pouco sobre a morte de sua família. Como sempre recebia esse tipo de propostas,mas nunca aceitava, nunca gostou de falar sobre aquilo, mas agora a situação mudou de figura e ela precisa do dinheiro.
Ela só não poderia adivinhar no que estava se metendo, a garota vai parar no Kill Club , que é nada menos do que um grupo de pessoas apaixonadas por Serial Killers e casos que eles consideram como não resolvidos ou interessantes demais para serem esquecidos sim, dessa vez o Christian Gray e seu quarto vermelho perderam de lavada no quesito loucura , apesar de achar no mínimo estranho esse lugar, tenho que admitir que fiquei com muita vontade de fazer parte de tudo aquilo. Eles encenam crimes famosos, montam galerias sobre os casos (com fotos, objetos e coisas do gênero) nada mórbido. Nesse lugar ninguém acredita que Bem seja o verdadeiro culpado e convencem a Libby a correr atrás do que do realmente aconteceu naquela madrugada.
Gillian Flynn gosta de criar personagens femininas peculiares, fortes, loucas, complexas, humanas e reais. Ela inventa situações que realmente mexem com o emocional do leitor, nos retira da nossa zona de conforto, explora cada gota de nosso bom senso e nos mostra que as vezes temos pensamentos e atitudes más, porque somos humanos. Como em todos os seus livros, Lugares Escuros também aborda assuntos polêmicos como: Religião, Diabo, problemas familiares, a vontade de morrer (depressão). A autora também aproveitou para nos apresentar as dificuldades financeiras das famílias que passaram pela crise agrícola dos anos 80.
“Bem, algumas vezes coisa têm que morrer. Temos que matar. Assim como Jesus exige sacrifício, bem Satanás também”
“Era março, um infeliz e encharcado março, e eu estava deitada na cama pensando em me matar, um passatempo meu. Uma espingarda na boca, um bang e minha cabeça sacudindo uma ,duas vezes. Sangue na parede. Respingos, jorros.”
O livro possui uma dupla narrativa com capítulos intercalados. Temos os dias de hoje contados pela Libby e o dia da tragédia narrado em terceira pessoa, o que é realmente muito interessante, quando não é irritante. Vou tentar explicar, todos os capítulos parecem terminar na melhor parte, e você precisa saber o que está acontecendo nos dias de hoje com a Libby, mas a autora decide que você deve saber primeiro o que aconteceu no café da manhã da família Day no dia do massacre (ou vice-versa). Esse joguinho me deixou LOUCA!
“Ela sabia, por exemplo, que eu menti para nossa mãe sobre socar Jessica O’ Donnell. Isso era verdade, deixei a pobre garota com um olho roxo, mas jurei à mãe que ela caiu de um balanço.Libby me disse que o Diabo a obrigou a fazer isso.”
Ao término da leitura entrei em uma baita ressaca literária, demorei um pouquinho até mesmo para escrever essa resenha. Amei o livro e sem dúvida nenhuma, ele merece cinco estrelinha, mas não seria totalmente sincera com vocês de dizer que não fiquei um tiquinho decepcionada com o final, não que tenha sido ruim, muito pelo contrário, mas sabe quando você espera algo inatingível no quesito perfeição de um autor, pois é, isso aconteceu comigo com relação a essa obra. Entretanto superei e agora quero que todos, estou dizendo TODOS leiam esse livro!
“Eu tenho uma maldade dentro de mim,tão real quanto um órgão. Corte minha barriga e talvez ela escorra para fora, viscosa e escura, e caia no chão para que você possa pisar nela. É o sangue dos Day.”
Sejam Bem-Vindos ao caso da Família Day!![]()